quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Não queria gostar de mim, sem que eu te peça"


Há um tempo, alguém (que não me lembro quem) me perguntou qual era o motivo pelo qual eu gostava tanto da cultura de Portugal, da língua e do próprio país. Bem, a verdade é que eu não me lembro ao certo o que respondi, mas sei que foi algo sobre a arquitetura de certos pontos turísticos de lá, sobre a língua e o quanto ela me soava bem aos ouvidos, enfim, dei uma resposta no melhor estilo evasivo e saí pela tangente, pois eu mesma não fazia idéia disso.
Então eis que certo dia, do nada, me lembrei da Amália!
Quando eu era criança, minha mãe possuía uma relíquia da humanidade: Uma radiola!! Isso mesmo, uma radiolinha quadrada, do tamanho de uma forma de bolo média. Ela se dividia em duas partes, ligadas por um fiozinho vermelho, fininho e bem sem-vergonha de tão frágil,a parte de cima era o auto-falante e a de baixo era onde se colocava o vinil.
Minha mãe tinha poucos discos, a maioria deles fazia parte de uma coleção de inglês didático que ela usava para dar aulas, outra coleção do Padre Zezinho, que ela ouvia várias vezes, mesmo não sendo católica, e os de música "normal" eram só três ou quatro, pelo que me lembro, mas dois em especial eu lembro perfeitamente, e um era o da Amália Rodrigues, uma portuguesa que cantava fado, um fado triste, choroso, melancólico, como realmente deve ser um fado português.
Me lembro que nós colocávamos o "bolachão" na vitrolinha, e ao som do fado, minha mãe ia cuidando dos seus afazeres da segunda jornada de trabalho feminino - o doméstico - e eu ficava lá em volta dela, cantarolando o fado e tentando imitar o sotaque português tão característico, e a minha função era virar o disco na vitrola - tarefa que eu realizava com muita cautela e esmero, pois eu sabia que ao menor arrastar da agulha na superfície do disco, ele poderia arranhar-se e aí já era o fado!
O outro disco que ouvíamos muito, e que não podíamos chamar de "bolachão", pois era daqueles pequeninos, era o da Perla. Mas cuidado! Não confunda a Perla da minha infância com a Perla do Funk (mais uma das mazelas do cenário musical da atualidade).
A Perla verdadeira e original era uma paraguaia lindíssima, de descendência Tupi, de longos cabelos negros "a la graúna" e da voz potente e melodiosa. Sua voz era quase um lamento sofrido, dolorido, porém ela arrancava suspiros apaixonados do mais austero dos homens e causava nas mulheres uma depressão incólume, tal era sua beleza quando nova.
A paraguaia também tinha seu sotaque, obviamente, e eu, também obviamente tentava imitá-lo! Lembro-me que naquela época minha mãe, que ainda não sofria tanto com os sintomas da bipolaridade, era mais alegre, parecia realmente feliz com a vida que ela tinha, mesmo sendo uma vida difícil, regrada, incompreendida por muitos por ser mãe solteira.
Sendo assim, sempre que lembrar de minha mãe agora, lembrarei da Amália e da Paraguaia Perla, pois nesse tempo, mesmo que só na minha memória, o sorriso da minha mãe era mais constante, e nós éramos felizes, ela, com mais amor pela vida, e eu, com a inocência intocada de uma criança que era feliz, e não sabia...
Mas hoje eu sei.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O tempo passou...


E fazia tempo que não dava uma passadinha por aqui, então resolvi dar uma olhadela e... definitivamente andei muito enevoada por esses meses...
Mas passou!
Já estou mais estabilizada emocionalmente, já se passaram seis meses e alguns dias da passagem da minha mãe, estou me acostumando à regrada vida, tenho um emprego abençoado, uma pessoa linda ao meu lado, ando de novo apaixonadíssima pelo Fê (não o Pessoa, mas o Anitelli), Resolví que os post seguintes devem ter uma cor mais viva, um tom mais alegre,afinal, estou viva!
Definitivamente falar de coisa boa as atrai, então... Que venham as coisas boas então... tão boas como a nova música d'O Teatro Mágico: Quermesse!
"Minha nossa, é só ficar longe que logo eu penso em você"

quarta-feira, 18 de maio de 2011


No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
Mário Quintana

domingo, 27 de março de 2011

Minha mãe


De noite a solidão vem me assaltar
De noite canto mais alto pra não chorar
De dia a saudade quer me acordar mais cedo
Mas quem me conhece aprende a me esperar

Eu nasci de noite filha de uma estrela
A sereia canta só pra me ninar
Eu cresci na noite como a lua cheia
Afastando nuvem pra te iluminar

Água de cheiro pra Iemanjá
A onda vai pra depois voltar
Larguei meus sonhos em alto mar
Quem me conhece aprende a me esperar
Larguei meus sonhos em alto mar
Meu peso em ouro pra quem achar

Luiza Posse

quarta-feira, 2 de março de 2011

Minha mãe...


Quando eu era criança minha mãe sempre me deixava dormir do lado da cama que ficava encostado na parede.
Ela sempre me deixava ficar acordada até tarde, mesmo sabendo que eu iria acordar cedo pra ir pra escola no dia seguinte.
Minha mãe sempre me deixava comer um monte de besteiras, e até comia comigo, quando eu oferecia!
Minha mãe às vezes me deixava louca com tanto falatório!
Ela me deixava o cartão do banco cedinho pra eu tirar o dnheirinho dela todo mês...
Minha mãe deixava as rações dos cachorros sempre arrumadinhas, e nunca lhes faltava nada!
Ela não me deixava tomar banho sem dar batidinhas na janelado banheiro e eu subir no banco pra conversar com ela da janela...
Mas domingo, às vinte e três horas e cinco minutos, esse verbo deixou de ter objeto, pois nessa data, 27/02/2011, ela simplesmente me deixou...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

E de novo...


Desde ontem nem sei o que pensar...
De novo minha mãe está muito mal, só tosse o tempo todo, a infecção urinária está deixando-a totalmente desorientada, tirando o pouco de lucidez que ainda restava a ela, não quer comer nada e nem sabe mais conversar, o maldito plano de saúde não sai, e tenho minhas dúvidas sobre o fato de que quando sair, ainda vai servir pra alguma coisa,e já consigo até sentir o cheiro de novo daquele lugar imundo e odioso onde ela ficou e que muitos chamam de hospital público...
Juro que não sei o que é pior: Ter de levá-la de novo praquele inferno, ou deixá-la morrer em casa, já que se a situação piorar de novo como da primeira vez, não vai fazer muita diferença o local onde ela esteja...
Queria muito ter a força e a paciência que muitos esperam de mim... queria muito ter a fé e a sabedoria, e ter a calma que tanto necessito, mas de quando em vez só consigo perguntar onde é que está Deus nas horas em que eu peço ajuda, peço saúde pra minha mãe e que ela melhore pelo menos um pouco...
Sei que é horrendo dizer isso, mas ás vezes me sinto tão sozinha nesse mundo, ja que o grande pai dos pais não parece ter um tempinho pra mim...
Sei também que não deveria blasfemar, afinal acabei de arrumar o emprego dos meus sonhos, e quero muito fazer de tudo para merecê-lo, mas eu também queria ter minha mãe de volta, como ela era em novembro, por exemplo... será que pedir tanto assim?
Ter minha pequena família em paz, com saúde e feliz.
Será que é pedir demais?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O próprio umbigo.


Com o final de ano horrível que eu passei, tendo minha mãe na UTI e achando realmente que ela iria embora, houve certas ocasiões em que eu achei que carregava todo o sofrimento do mundo sozinha... Lêdo engano!
Procurando algum esclarecimento sobre as "escaras, ou úlceras de pressão, que são essas feridas que dão em pessoas que ficam muito tempo deitadas, encontrei este blog: http://caminhodepedras.wordpress.com/
Comecei a ler vários post e fui percebendo que olhar só para o próprio umbigo é, além de mega egoísta, ridículo!
A autora desse blog passou por coisas horríveis, muito piores do que as que eu passei, e no final do caminho, ela não teve a mesma sorte que eu, de poder levar curado para casa o pai que estava doente...
E foi lendo este blog que eu parei de achar que eu era uma mártir e pensei que como ela, inúmeras pessoas sofrem, e muito mais que eu... então, que tal parar de se lamentar e colocar no lugar dos choramingos um bom sorriso no rosto e ir ajudar a quem precisa, pelo menos com palavras de conforto?
Faça isso, e a recompensa é linda!

Bênçãos...


Sabe... nunca soube muito bem como isso funciona na minha vida, mas sempre que eu me vejo na escuridão, em total desalinho com meus anseios e prioridades, me vem como uma chuva refrescante, alguma bênção.
No final do ano, com todo o desespero de quase ter perdido minha mãe, e nesse início de ano, tendo de fato perdido fisicamente o meu melhor amigo, ainda houve um fato não mencionado por aqui: Perdí meu emprego numa escola que eu tanto gostava...
Tentei me resignar, pois fui realmente super profissional enquanto lá eu estava, e pensei no fato de que com minha mãe acamada e mega dependente, eu não conseguiria mesmo trabalhar tão longe, por mais que eu gostasse, pois minha mente não iria me acompanhar, estaria aqui em casa, com ela...
Estando eu em casa uma bela manhã, dormindo, morrendo de sono por ter acordado durante três vezes na noite para trocar fraldas da mãe, eis que recebo uma ligação muito inesperada: Era o filho da Bete, a dona de uma escola muito renomada aqui em Formosa, e que desde que me formei professora, sempre foi o meu sonho de consumo - O Colégio Visão - Quando ele me falou: "Olá, estamos com o seu currículo aqui, será que você pode vir falar com a gente hoje ainda, lá pelas dez horas?" eu disse meio descrente: posso sim, claro!
Mas fui pensando no seguinde:
Primeiro: o que foi que deu nesse povo de me ligar assim do nada? Pois pra trabalhar lá, é preciso além de um peixe muito bom, ter nome na cidade...
Segundo: gente! meu currículo está lá desde 2007 por aí, já entreguei vários lá, como assim ela me chamou tendo em mãos um currículo mega desatualizado?
Então, pra minha surpresa, pois fui totalmente desarmada de expercativas ou anseios, fui contratada!!
Na hora eu pensei: mas e a minha mãe? como vou conciliar tudo? são todas as manhãs, será que eu consigo?
Mas a marida, como sempre faz, me deu muito apoio, muita força, e mais uma vez foi uma mola propulsora, e então... Sabe o meu sonho de consumo? aquela coisa que você sempre quis no fundinho do seu coração e que já nem fazia mais parte dos seus sonhos, pois você nunca mais se julgou capaz e merecedora daquilo?
Eu conseguí!!!!!

E agora só posso agradecer à Deus por mais uma bênção concedida, e por, mesmo com minha mãe com uma anemia profunda e com uma infecção urinário horrenda, ainda estar forte e certamente com a mesma certeza que eu tenho de que ela vai sair dessa e vai ficar boa!!!
E nada do bendito número da carteirinha do plano de saúde...
Mas eu tenho fé, porque o meu santo sempre foi forte e o meu anjo da guarda é O CARA!!!